A Ameaça Silenciosa que Entra em Casa pelas Telas

    A saúde mental da juventude de hoje enfrenta uma crise alarmante. Esse problema não é só uma questão social, mas também um desafio espiritual e formativo para as famílias. A psicóloga Adriana Poteschi traz um questionamento importante: Por que os pais, que nunca dariam substâncias nocivas, como cigarros eletrônicos ou drogas, permitem que os filhos tenham acesso ilimitado à tecnologia? Essa comparação é forte, mas embasada em estudos: a dependência de eletrônicos pode afetar a mesma área do cérebro que drogas pesadas, gerando um vício que prejudica a saúde mental e a essência do ser.

    A realidade é preocupante. O aumento de 48% no Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), 42% na depressão e um aumento de 205% no risco de suicídio entre crianças e adolescentes são dados alarmantes. Esses números são mais que estatísticas; representam o grito de uma geração que está perdendo sua infância e a chance de se desenvolver plenamente. O uso excessivo de telas não só gera déficits de atenção e atraso no aprendizado, mas também provoca impulsividade e dificuldades emocionais. Isso pode resultar em agressividade, anorexia emocional e uma profunda sensação de solidão.

    Para o entendimento católico, essa questão vai além da neurociência e se relaciona com a formação da alma. O isolamento no quarto, o medo de socializar e a automutilação são sinais de um problema maior: o enfraquecimento da espiritualidade. O autor Jonathan Haidt, em seu livro “A Geração Ansiosa”, destaca que o uso exagerado de eletrônicos pode enfraquecer a conexão espiritual das pessoas. Ele afirma que atos virtuosos aproximam o indivíduo de Deus, enquanto comportamentos egoístas e repulsivos o afastam, até podendo levá-lo a um caminho de destruição.

    A dependência de tecnologia provoca uma busca constante pela gratificação imediata, criando um círculo vicioso. Crianças e adolescentes passam a manipular o ambiente e até seus próprios pais para manter o acesso aos dispositivos. O que hoje é considerado normal, como o isolamento social e a falta de interação familiar, é um indicativo de que a sociedade e, consequentemente, as famílias estão enfrentando uma crise significativa.

    Diante dessa realidade, a Igreja convoca os pais para retomarem sua presença e autoridade na formação dos filhos. O objetivo não é demonizar a tecnologia, mas sim restabelecer uma hierarquia de valores em que o sagrado, o contato humano e as virtudes estejam à frente do mundo digital. O afastamento de Deus e de valores essenciais é uma das maiores tragédias da atualidade. É fundamental que os pais ajudem seus filhos a se distanciar da “antidivindade” digital, guiando-os para ações que realmente elevem suas almas em direção ao Sagrado. A salvação dessa geração ansiosa depende da coragem dos pais em dizer “não” ao que vicia e “sim” ao que verdadeiramente forma o coração para Deus.

    Além disso, é importante que os pais estabeleçam limites saudáveis em relação ao uso de tecnologia. Um bom ponto de partida é criar um ambiente familiar onde as interações pessoais sejam priorizadas. Isso pode incluir momentos em família sem dispositivos, como jantares ou passeios, o que pode ajudar a fortalecer os laços. Pais atentos podem perceber as mudanças no comportamento dos filhos e agir antes que se tornem problemas sérios.

    Outra estratégia útil é a educação sobre o uso consciente da tecnologia. Conversas abertas sobre os riscos associados ao uso excessivo de telas, como vícios e dificuldades emocionais, podem ajudar os jovens a desenvolver uma relação mais saudável com a tecnologia. Os pais podem ser exemplos, mostrando como gerenciar o tempo de tela e priorizando atividades que promovam o bem-estar mental e físico.

    É vital que os jovens sejam encorajados a praticar hobbies e atividades que não envolvam dispositivos eletrônicos. Incentivar a leitura, a prática de esportes ou atividades artísticas pode ser uma alternativa saudável e divertida. Essas ações não apenas ajudam a desenvolver habilidades, mas também criam um espaço para que as crianças e adolescentes explorarem seus interesses de maneira mais autêntica.

    Além disso, fomentar a vida espiritual na família pode ser um poderoso antídoto contra os desafios que a tecnologia impõe. Momentos de oração, reflexões sobre a vida e a discussão de valores espirituais ajudam a criar uma base sólida. A espiritualidade proporciona uma conexão profunda com o que realmente importa, ajudando a preencher o vazio que a dependência da tecnologia pode causar.

    Finalmente, é essencial que as famílias busquem apoio se necessário. Se os desafios parecerem avassaladores, considerar a ajuda de profissionais pode ser uma boa opção. Psicólogos e terapeutas podem oferecer suporte e orientações, ajudando tanto os jovens quanto os pais a lidar com essa crise de maneira saudável e construtiva.

    Em resumo, a crise da saúde mental entre os jovens é um problema complexo que exige uma abordagem multifacetada. A família desempenha um papel vital na formação da saúde emocional e espiritual dos filhos. A interação humana, a espiritualidade e um uso equilibrado da tecnologia são fundamentais para reverter essa situação. O amor e a presença dos pais, aliados a ações práticas, podem ser o caminho para uma geração mais saudável e espiritualizada. A luta pela saúde mental começa em casa e deve ser uma prioridade para todos.

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